Enquanto os lobos e os ventos selvagens das estepes uivavam do lado de fora. Aquecia dentro de um casebre gelado a ira de um demônio. Ninguém dizia nada, ninguém falava nada, ninguém sequer pensava nada. Estava frio, estava pesado e escuro dentro daquele lugar. Os homens fumavam, tremiam, e se entreolhavam dentro do quarto escuro, onde luz só entrava por pequenas e humildes frestas na madeira do telhado. Nada mais sentia ou respirava dentro daquele lugar, os gemidos e choros foram silenciados, ou então ignorados, não existia mais coração que aguentasse tentar ouvir o que acontecia dentro da outra sala. A sala com o chefe, o chinês e um cortador de batatas.
De tempos e tempos dali, saía alguma fatia do refém dentro de uma sacola de pão. O refém ao menos saía de alguma forma, mas mais ninguém além de seus retalhos colocava o pé pra fora dali dês da madrugada.
Mas aí que surge o som de um motor, um caminhão engata o breque de mão, saem dois homens. A porta se abre com força, um deles fala: Onde está Tolinsk?.
Os guardas apontam mexendo a cabeça para o rumo da porta, o homem entra na fatídica sala e logo em seguida ocorre uma discussão. Era Caspian que acabara de chegar, ele tinha sido enviado por Ulano para falar pessoalmente com ele. Parece que não podiam mais arrancar nada dos chineses, e aquele coitado do refém deveria ser solto, ou não.
Pronto, e a poeira rosa voa depois de Tolinsk desferir tranquilamente uma bala na cabeça do refém durante o bate-boca. Caspian não gostou daquilo, como sempre teve um senso de justiça, não queria matar aquele chinês, algo já decretado por Tolinsk, dês de que o coitado foi capturado.
Mas aquilo não ficou barato. Caspian não aceitava o comando gélido de Tolinsk. Apesar de ter dado certo, ele achava e sabia que aquilo iria se voltar contra eles, como voltou na morte de seu pai. Que morreu à mingua por falta de remédios por que não podiam sair e comprar nada depois que os Karpeyja pactados com os Slovodan corromperam a polícia e colocaram a cidade toda atrás deles. Tudo isso por vingança dos atos violentos e ousados arquitetados por Tolinsk.
Como eu disse, Caspian não aceitava aquilo, afinal Tolinsk era o segundo filho, Ulano o primogênito, por direito tinha que estar no comando. E como Ulano possue um temperamento bem mais benevolente, mas frio, Caspian imaginava a família num lugar melhor que aquele.
A briga dura cerca de alguns minutos, mas depois disso, tudo silencia e Caspian sai de cabeça abaixada e vai embora enquanto Tolinsk jogava o corpo do amarelo na neve e o queimava.
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